IGREJA CATÓLICA, DIVORCIADOS E EUCARISTIA

Irani Mariani – advogado, OAB/RS 5.715 

Segundo norma da Igreja Católica, o casamento é indissolúvel e, por isso, “NÃO SEPARE O HOMEM O QUE DEUS UNIU”. 

Assim, no entender da Igreja, quem se descasa e casa de novo vive em pecado permanente, resultando daí a negação de participar da Eucaristia. 

Trata-se de uma tormentosa situação, imposta pela Igreja, vivida por milhares de católicos que gostariam de continuar na sua fé e receber a Eucaristia. O constrangimento e a dor moral que a Igreja causa com tal imposição é, sem dúvida, uma das causas do esfriamento da fé católica e inclusive da perda de fiéis. 

A propósito, sabemos que Jesus Cristo, ao instituir a Eucaristia, na Última Ceia, a serviu aos seus doze apóstolos, incluindo Judas Iscariotes, seu traidor e, por isso, em pecado. 

Assim, Cristo não exigiu estado de graça para dar a Eucaristia, pois ele próprio a deu a quem sabia ser o seu traidor. 

Sem a pretensão de ferir suscetibilidades, a Igreja Católica precisa se libertar da CULTURA DA CULPA, oriunda da Idade Média ou desde a época da sua união política com o Estado que, aqui no Brasil, foi até a proclamação da República em 15/11/1989. 

É verdade que os últimos Papas pediram, publicamente, perdão pelos erros cometidos pela Igreja, na Idade Média, mas isso demorou mais de 600 anos. 

Há pouco tempo o Papa Francisco declarou que “TODOS NÓS SOMOS PECADORES”, numa clara alusão de que o ser humano não é perfeito. 

Ora, se todos nós somos pecadores, inclusive a Igreja Católica, na referência feita pelo próprio Papa, quem teria autoridade para negar a Eucaristia, na contramão do próprio Cristo, aos cônjuges que tiveram que se separar, até para proteger a si próprios e aos filhos e para evitar tragédias tão comuns nos conflitos familiares? 

Agora, após o último Sínodo, Igreja fala em Misericórdia para com os divorciados, como se continuassem a ser pessoas em permanente pecado. 

Assim, na minha visão, está mais do que na hora de a Igreja Católica rever certas posições, de duvidoso cristianismo, na sua relação com os divorciados que se casaram de novo. 

Afinal, quem é quem, nesse mundo pecador, para meter a “colher” na relação restrita ao casal e a Deus ou “jogar a primeira pedra”? 

Irani Mariani – advogado, ex-seminarista e recasado

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