Irani Mariani – advogado, OAB/RS 5.715
A palavra egoísmo vem do grego, ego(eu)+ismo(doutrina). É a doutrina que trata do amor excessivo ao bem próprio, sem consideração aos interesses alheios ou a “Doutrina que considera como princípio explicativo dos interesses morais e como princípio diretor da conduta humana moral o interesse individual. Amor exclusivo e excessivo de si, implicado na subordinação do interesse de outrem ao seu próprio.” (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira).
Todos nós nascemos com o germe do egoísmo, a bactéria parasitária que provoca no ser humano doenças psíquicas como a febre pelo dinheiro e pelo poder em benefício próprio.
Observamos, ainda, que quanto mais desprovido de poder e bens materiais, mais solidário e humilde o homem se torna. Entretanto, salvo raras exceções, na medida em que o homem mais aufere dinheiro e poder, o germe do egoísmo evolui na mesma proporção, alimentado pela ganância de querer sempre mais.
O egoísmo, assim, tem dado origem a duas classes de cidadãos: a dos dominantes, representada pelos que exercem altos cargos públicos, como detentores do poder, com altíssimos salários, garantias e privilégios; e a dos dominados, representada pelos demais, mormente da iniciativa privada, a maioria com salários aviltantes, sem garantia de emprego e sem privilégios, não obstante ser a geradora das riquezas e a pagadora dos impostos para sustentar a classe dominante.
Em tempos de crise é comum a classe dominada fazer acordos para reduzir salários, reduzir jornada de trabalho e suspender temporariamente atividades como forma de garantir seu emprego.
Já a classe dominante, em tempos de crise, além de manter seus privilégios, procura aumenta-los mediante mais tributação sobre a classe dominada, tudo na contramão da finalidade primeira do poder que é a de servir e não de servir- se.
Vivemos, assim, o paradoxo, onde a maioria absoluta, que percebe menos de um mil reais por mês e tem subtraído deste valor em torno de 40% de tributação, embutido no preço dos produtos que adquire, é quem sustenta a classe dominante e o inchaço do Estado.
Se hoje estamos vivendo o caos na educação, saúde e segurança pública, entre outros males, devemos isso ao egoísmo da elite dominante desde tempos idos.
A ausência do Estado na educação tem sido a responsável pela geração de milhares de pessoas despreparadas para a vida, uma geração de monstros que cresce dia a dia de forma descontrolada e que busca a sobrevivência em princípios os mais primitivos, tais como assaltos, furtos, roubos e assassinatos.
O egoísta não chora a morte de suas vítimas, mas se regozija com o fruto do seu egoísmo e não o comove a morte de milhares pessoas face a ausência do
Estado na saúde e sua impotência diante do banditismo que ataca a população com armas de fazer inveja aos policiais civis e militares.
Infelizmente, apenas uma minoria dos nossos governantes é confiável, mas ela nada pode fazer diante do potencial do egoísmo que se alastrou por todo o País.
Tenho, assim, que a origem dos males que nos afligem reside no egoísmo da elite dominante; e que o banditismo fora de controle, entre outros males, gerado pela ausência do Estado no cumprimento de deveres fundamentais, é mero efeito do egoísmo da elite dominante.
Enfim, a exemplo das ditaduras, o atual modelo de estado, no poder das elites dominantes, teve o seu dever laico e democrático transformado em ferramenta a serviço de si mesmo.