Irani Mariani – advogado, OAB/RS 5.715
Eliminando o mal pela raiz: educação e formação da criança.
Sabemos que o investimento na educação é básico para erradicar a violência, a pobreza, as desigualdades sociais, criar salário digno, enfim, para gerar o desenvolvimento do País de forma digna, igualitária e harmônica.
Sabemos que o nascituro precisa de cuidados especiais desde a concepção e que os pais também devem ser preparados para o exercício da paternidade. Sabemos, ainda, que a criança já no ventre materno começa a sentir o que acontece no seu exterior, de bom ou de ruim, pelos reflexos do estado psicológico da mãe e do ambiente externo.
Afirmam os especialistas dessa área que a formação do caráter da criança se dá de acordo com seu ambiente familiar e vai até o início de sua alfabetização (5 ou 6 anos) e que crianças criadas com maus exemplos se, ao chegarem à adolescência, optarem pelo crime como meio de vida, se tornam praticamente irrecuperáveis.
AUGUSTO CURY, no seu livro “Armadilhas da Mente” (romance), pgs. 93 e 94, Editora Arqueiro, 2013, o personagem Marco Polo (psiquiatra e psicólogo) afirma para sua paciente Camile:
“…. que o fenômeno do auto fluxo (que lê a memória milhares de vezes por dia, produzindo pensamentos que nos distraem, nos animam, nos fazem sonhar, etc.) passeia pelas janelas da memória desde a aurora fetal no útero materno e durante toda a existência no útero social. Ele lê as experiências que resultaram dos malabarismos fetais, da sucção do dedo do bebê, do conforto no berço, das cólicas intestinais, dos beijos dos pais. Lê também milhões de outros estímulos, como palavras e reações que vê e ouve. Essa riquíssima leitura do autofluxo produz milhares de novas experiências diariamente, que são registradas de volta no córtex cerebral gerando milhões de informações que estão registradas em milhares de janelas da memória. Com isso, constrói uma plataforma, um banco de dados, para o desenvolvimento do Eu. Marco Polo ainda explicou que um Eu mal formado traz consequências a vida toda.”
JAMES HECKMAN, americano, 73 anos, prêmio Nobel de Economia em 2000, é respeitado tanto na sua área de economia quanto na educação sobre estudos da primeira infância.
Na sua entrevista concedida à revista VEJA, “O PRIMEIRO EMPURRÃO”, edição de 27/09/2017, pgs. 13/15, Heckman afirmou, entre outras, sobre os primeiros anos de vida:
“É uma fase em que o cérebro se desenvolve em velocidade frenética e tem um enorme poder de absorção, como uma esponja maleável. As primeiras impressões e experiências da vida preparam o terreno sobre o qual o conhecimento e as emoções vão se desenvolver mais tarde. Se essa base for frágil, as chances de sucesso cairão; se ela for sólida, vão disparar na mesma proporção. Por isso, defendo estímulos desde muito cedo.
A probabilidade de ele (bebê) vir a ter uma vida saudável se multiplica quando a mãe é disciplinada no pré-natal. Até os 5, 6 anos, a criança aprende em ritmo espantoso, e isso será valioso para toda a vida. Infelizmente é uma fase que costuma ser negligenciada – famílias pobres não recebem orientação básica sobre como enfrentar o desafio de criar um bebê, faltam boas creches e pré- escolas e, sobretudo, o empurrão certo na hora certa.
Países que não investem na primeira infância apresentam índices de criminalidade mais elevados, maiores taxas de gravidez na adolescência e de evasão no ensino médio e níveis menores de produtividade no mercado de trabalho, o que é fatal.
Há ainda uma substancial ignorância sobre o tema. Algumas décadas atrás, a própria ciência patinava no assunto. A ideia que predominava, e até hoje pesa, é que a família deve se encarregar sozinha dos primeiros anos de vida dos filhos. A ênfase das políticas públicas é na fase que vem depois, no ensino fundamental. E assim perde a chance de preparar a criança para essa nova etapa, justamente quando seu cérebro é mais moldável à novidade.
Para quem tem o poder de decidir deixo aqui uma provocação: não investir com inteligência nesses primeiros anos de vida é uma decisão bem pouco inteligente do ponto de vista do orçamento público. Basta usar a matemática.
De outro lado, quanto mais uma criança fica para trás, mais dificuldade ela terá para preencher as lacunas do princípio.
O país também deve prestar atenção na qualidade dos professores: países como a Finlândia souberam valorizar a carreira docente – não apenas no salário, que fique claro – e colheram grandes resultados na educação desde cedo.”
A Má Formação do Caráter
Chegamos, então, ao ponto nevrálgico.
Sabemos que a má formação do caráter daqueles que tomaram posse do poder é a real causadora do caos que nos aflige.
Essa elite dominante egoísta também comete, pelas vias travessas, crimes hediondos, por ser a real responsável pelas pessoas que morrem de fome, estão desempregadas, vagando pelas ruas, vegetando nas filas dos hospitais e morrendo por falta de assistência médica e hospitalar.
E, por falta de investimento na educação, aqui no Brasil a bandidagem proliferou e está fora de controle. Os cárceres e as favelas foram transformados em fábricas de bandidos.
Por que, então, o Estado ainda não criou instituições especializadas para acompanhar as mães, principalmente as mais desvalidas da sorte, desde a concepção até os primeiros anos de vida da criança e o início da alfabetização?
Na minha visão, é porque a criança não vota. Mas o ignorante, aquele que facilmente se submete à lavagem cerebral e se deixa vender por um “prato de comida”, este, sim, vota!
O ensino público virou uma bagunça tanto pela falta de qualificação de grande número de professores quanto pelas intermináveis greves, principalmente devido aos salários desprezíveis e, mesmo assim, pagos parceladamente face à insolvência do Estado.
Alunos viraram seres selvagens que agridem e até assassinam professores(as).
O resultado é o que estamos vendo: uma multidão de analfabetos, despreparados para a vida e mais outra multidão de analfabetos funcionais.
Milhares de pessoas, ainda, buscam no crime o meio de sobrevivência, colocando em pânico a população e em fuga a própria polícia.
E tudo isso está gerando clima para mais um regime de exceção aqui no Brasil.
Cuidado!!